Meia-noite em BH
“Inspirados no filme de Woody Allen que vem encantando o mundo, mineiros fazem viagem pela Belo Horizonte de antigamente ao lado de Pedro Nava, Drummond e Guignard, entre outros ícones
Que tal esbarrar com Carlos Drummond de Andrade no Bar do Ponto? Ou, quem sabe, degustar a melhor empadinha do mundo na companhia de Pedro Nava, no saudoso Trianon? Vale também passear pelas ruas de Belo Horizonte ao lado do mestre Guignard e encerrar a noite com um belo vinho.
Irrecusáveis convites, sem dúvida. Mas como isso seria possível? Só se tais acontecimentos fizessem parte de roteiro do cineasta Woody Allen, responsável por um dos filmes mais festejados dos últimos tempos: Meia-noite em Paris. A comédia retrata a história de Gil Pender (Owen Wilson), roteirista que pretende se dedicar à literatura e deixar os blockbusters de lado. Curtindo crise existencial, ele flana por uma Paris mágica: quando soam as badaladas da meia-noite, elegante calhambeque o apanha para visitar o passado. Esse jovem do século 21 se encontra com ícones do anos 1920, como os escritores Ernest Hemingway, Gertrude Stein e F. Scott Fitzgerald, o compositor Cole Porter e os artistas plásticos Pablo Picasso e Salvador Dalí.” (Jornal Estado de Minas, caderno “EM Cultura”, 23/07/2011)
Trailer "Meia-Noite em Paris" (Legendado)
Woody Allen e elenco falam sobre passado e presente em "Meia-noite em Paris".
O que fazer e com quem encontrar na Belo Horizonte dos anos de 1940? A cidade ainda era muito jovem, estava ainda por fazer seus 50 anos de fundação, porém, já tinha uma aparência bem distinta dos primeiros anos de vida. Mas ainda me pergunto o que fazer? Essa pergunta é meio louca, uma vez que não podemos voltar no tempo. Porém, decidi entrar na brincadeira proposta pelo Caderno “EM Cultura” do Jornal Estado de Minas do Sábado, 23 de Julho de 2011, de me projetar na mágica Belo Horizonte da primeira metade do século XX.
O período escolhido para minha aventura foi a década de 1940, primavera de setembro de 1944, não escolhi por acaso, na época, “encenava-se” os “atos” finas da II Guerra Mundial que assolava os países europeus, mas mesmo a guerra estando longe, ela também mexia com o cotidiano da cidade no ano, como a movimentação patriótica dos cidadãos, que incentivavam os pracinhas enviados para lutar nos campos de batalha italianos, contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Fora os acontecimentos internacionais, Belo Horizonte era uma cidade muito calma, que começava a deixar seus ares de cidade tranqüila pra se tornar uma das principais metrópoles brasileiras. O ar respirado era apaziguador, na primeira metade do século XX, muitos vinham para BH para se curar de tuberculose, até Noel Rosa já esteve por aqui para cuidar de sua saúde. Era também uma cidade romântica e verde, com destaque para a arborizada avenida Afonso Pena e o Parque Municipal. Época em que os casais de namorados viviam a rotina do tradicional “namoro de portão”, tão esquecido nos dias de hoje! Tenho saudade do tempo que não vivi!
Bem, começamos nossa viagem! Se pudesse, não só escolheria um dia para o mágico passeio, mas escolheria uma semana, uma semana qualquer do mês de setembro de 1944. Para começar, não iria sozinho, iria com alguém muito especial para mim hoje.
Para começar, me imagino na Praça da Estação me dirigindo à um guichê para comprar uma passagem de trem para o interior. À principio, não quero passar a semana toda em Belo Horizonte, dos sete dias da semana, queria passar seis com meu herói, o Dinvô, meu avô materno, na época em sua juventude, na casa dos 20 anos. Iria para Nova Serrana, compraria a passagem para a estação de Conceição do Pará, e de lá, me viraria até chegar no destino. Queria conhecê-lo em sua mocidade, e viver uma de suas aventuras que ele tanto gostava de nos contar e vivenciar a difícil lida da roça.
O último dia seria mais intenso, voltaria no sábado à noite para Belo Horizonte, e iniciaria o domingo acordando bem cedo, vestiria o terno habitual da moda da época e empunharia um chapéu de feltro. Assim, desceria para assistir uma missa em latim na Catedral da Boa Viagem acompanhado da pessoa especial e do jovem prefeito Juscelino Kubitscheck, apelidado de “prefeito-furacão”, pela quantidade de obras concluídas no prazo de 5 anos (1940-1945). Após a missa, ainda acompanhado por JK, pegaria o bonde na av. Afonso Pena e desceria para o “Café Nice” (existente até hoje) na Praça Sete, para tomar o tradicional café moído na hora e coado no coador de pano (ainda é assim até hoje), um pão de queijo, e quem sabe um omelete de frango com palmito!
Depois, por volta das 9hs, subiria para a Praça da Liberdade para o “encontro marcado” com o quarteto de escritores conhecidos como “os quatro cavaleiros do apocalipse”: Fernando Sabino (com 21 anos, redator do jornal A Folha de Minas, em 1941, já havia publicado seu primeiro livro de contos), Helio Pellegrino (com 20 anos, em 1940, já havia publicado seu primeiro conto no jornal O Diário), Otto Lara Rezende (com 22 anos, escritor, e já era jornalista do jornal O Diário), e Paulo Mendes Campos (com 22 anos, no momento escritor). Como eram escritores e jornalista, gostaria prosear sobre literatura e o momento político no Brasil e no mundo da época, e as ânsias para o futuro.
Por volta das 11hs, desceria para o Parque Municipal, para desfrutar o momento com um passeio de barco no lago. Não seria necessário nenhum dos filhos ilustres de BH, somente uma pessoa interessante com quem conversar.
Ao meio-dia, almoçaria em um restaurante tradicional da época da região central. Lá gostaria de encontrar com Pedro Nava (com 41 anos, escritor, participou da geração modernista de BH) e com o recém instalado pintor carioca Alberto Guignard (com 48 anos). Durante o almoço, conversaríamos sobre o movimento modernista, o mundo das artes e as visões de Guignard sobre as paisagens mineiras e as cidades históricas de Minas Gerais. Após o almoço, gostaria de visitar Ouro Preto de trem com Guignard, e lá presenciar a pintura de uma obra sua, e aprender um pouco de suas técnicas.
As 17hs, gostaria de já estar em BH, subir a avenida Afonso Pena, onde hoje é a Praça do Papa, para contemplar o final da tarde e a paisagem da jovem capital mineira com os poucos arranha-céus. Depois, pegar uma sessão de cinema no Cine Brasil na Praça 7.
Por volta das 20hs, gostaria de me dirigir ao Bar do Ponto (onde hoje é o Othon Palace Hotel, nas esquinas da Rua da Bahia com avenida Afonso Pena) e tomar uma cervejinha junto com a turma de Sabino, com Pedro Nava, com o quarentão Carlos Drummond, e com Rômulo Paes (com 26 anos, cantor e compositor, famoso em BH pela frase “minha vida é esta, subir Bahia e descer Floresta” encravada na praça do quarteirão fechado da avenida Álvares Cabral com rua da Bahia). E fechar a noite com uma conversa bem distraída, “causos” e samba.
Espero que tenham gostado do texto.
Quer ver mais imagens de BH em 1940? Te sugiro o post a seguir:
História & Fotografia: Belo Horizonte, décadas de 1930 e 1940
Para ler a reportagem completa publicada no jornal Estado de Minas de 23/07/2011, acesse o link:
2 comentários:
Tal assertiva faz com pensemos e, reflitamos sobre o passar do tempo. Sempre com Mudanças e Permanências.
É muito bacana, que, mesmo o tempo persistindo em nos alterar, sempre possamos contar com as permanências, principalmente em um período tão conturbado como o da pós-modernidade, em que tudo é efêmero!
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